Mistérios da Paixão
Ó dama de concursos, inteligente, de beleza rara,
Estudada, que lê seus livros com calma, sem alarde,
Por que, meu santo, seu coração se rende e se declara
A um pedreiro medíocre, que ninguém entende ou guarde?
Calvo, barrigudo, com voz fanha e francês no gingado,
Solta uns “quoi” no fim das frases, num tom forçado.
É pedante apesar das limitações, se acha extraordinário,
Conjuga direitinho, mas no fundo é só razo, e ordinário.
Será o endereço dos pais, burgueses de fino trato,
Morando no 78, com jeitinho de bairro pacato?
Ou será que te encanta, com discreta sedução,
A casa cinematográfica em Saint-Hippolyte, tem noção?
Ou os 1,84 de altura, que te fazem, quem sabe, sonhar
Com um gigante que, na verdade, não tem muito a dar?
Ou será, num sussurro que ninguém ousa confessar,
Que ele é um deus na cama, com segredos de encantar?
Ó amor, que zomba da lógica e da razão tão certinha,
Faz a rainha se derreter por um pedreiro sem linha!
Mas vá lá, o coração não segue edital nem critério,
Escolhe o que quer, com um riso leve e sério.
E enquanto a gente espia, com espanto e ironia,
Ela vive feliz, amando, na sua doce fantasia!