Cancri humanitatis
A Terra exausta sua em febre branda,
mas o mercado alega: “É só demanda.”
Deus, nas prateleiras, vira promoção:
“Compre a Verdade e leve a Salvação!”
O câncer avança — fé metastática —,
cura-milagre, dor dogmática.
Rezando em coro, o rebanho tropeça,
crendo que o dízimo paga promessa.
Do outro lado, em ternos de Excel,
o lucro posa de anjo fiel.
Sorri, privatiza, depois terceiriza:
quem morre de fome é quem mais valoriza.
A ciência alerta: estágio I.
Mas o sistema já fede, sim.
Há sintomas visíveis, necrose fria —
o nome disso? Neoliberal mania.
A única chance, sem cirurgia,
é anarcocomunismo com naturoterapia.
E o ateísmo, calmante eficaz,
tira o delírio, devolve a paz.
O corpo é coletivo, a alma é matéria.
Ninguém se salva sozinho na miséria.
Desliga o templo, rasga o cifrão:
cura se faz com vida em comunhão.