Contemplar
Contemplar a cor da ausência,
o azul que arde sem pudor no contrabaixo das constelações,
onde cada nota vibra no útero do tempo,
e o tiramisú se derrete na língua da memória.
Molhadinha, faróis acesos —
a noite se oferece em carne de vela,
com os olhos vidrados no golaço do Cabuloso,
onde a arquibancada uiva em esperanto lunar.
Jack Herer canta no pulmão do infinito,
as cinzas dançam com os seios da fumaça,
e o cheiro de Deusa no cio
abre fendas no real,
fazendo do delírio
uma flor.
Contemplar, então,
é descalçar a lógica,
e caminhar nu
sobre o dorso azul
da imaginação.