Crer ou não crer: eis a questão
Sou ateu desde criança,
quando acabou a esperança
de que deus fosse verdade
e não só necessidade
de quem tem medo do escuro
e precisa de um futuro.
Percebi: coelho não põe ovo,
isso é papo bobo e novo
pra vender chocolate caro
no calor do calendário.
Depois, veio o velho imundo,
barbudo e sujo do mundo,
que só dá presente a quem tem,
e pra quem não tem: desdém.
Esse porco capitalista
disfarçado de altruísta
caga na lareira alheia
se a criança for da aldeia.
E teve ainda o Pinocchio,
mais um boneco e seu ópio.
Fé de madeira barata
que o nariz logo desata.
Mas mesmo sem deus no altar,
meu coração foi buscar
um outro tipo de fé —
de carne, perfume e pés.
Pré-adolescente, inquieto,
me encantei por um amuleto:
Deusas de carne e desejo,
com olhar que vale um beijo.
Depois, já um pouco crescido,
foi o feitiço que ouvi.
Feiticeiras com sorriso
que bagunçam meu juízo
e me encantam só de rir.
Na vida adulta, as bruxas.
Algumas doces, outras brutas.
Mulheres de força e vinho,
que cruzaram meu caminho,
e, no laço que formamos,
nós nos transformamos.
E agora, com mais idade,
acredito com vontade
em fadas — sim, de verdade.
Sábias, leves, transparentes,
com poderes tão potentes,
pra erguer meu coração
e reacender minha canção.
deus? Nunca vi, nem sinal.
Mas posso provar que elas —
as Deusas, as feiticeiras,
as bruxas e as tagarelas
fadas da mais pura idade —
existem. São verdadeiras!
Carne, gozo, riso, prazer:
minha forma de crer e ser.