Salmo 8
(tentação)
deus bate ponto no relógio da ilusão.
tão sagrado quanto um truque de salão,
vende pecado à prestação,
com juros altos na salvação.
fé cega, vaca atolada,
num brejo de orações mal passadas,
onde alma é moeda de troca
e amor… é só fachada.
orar virou senha de acesso,
ritual por comando de voz.
mas já no berço da areia e da pedra
fitna dançava entre nós.
satanás trocava nomes nas fronteiras,
shaytan e yetzer hara jogavam dados,
na tenda, um velho vendia tawba
em papiro de pecados reciclados.
chegavam caravanas do arrependimento,
maghfira entre tâmaras e preces.
na esquina, um escriba vendia kapará,
em latim, hebraico, e muitas vezes.
jahannam ardia antes do fósforo,
chet se confundia com lei.
o templo lavava as mãos de tudo,
enquanto o povo… dizia amém.
aveirah tingia a túnica do rei,
o sacerdote colhia avon com luva.
um bode expiatório subia a colina,
sem saber o que era teshuvá.
o bem e o mal jogavam gamão,
na sombra do juízo final.
a punição sempre pronta,
o perdão… bem, opcional.
“quando um otário nasce, um esperto vem ao mundo” —
dizem. mas a conta nunca fechou.
porque desde os primeiros gritos de fogo,
tem muito mais otário,
e o esperto…
foi quem criou deus à sua imagem e semelhança.
Amém