terça-feira, 15 de julho de 2025

Receita Fetiche

Receita fetiche

Pegue 800 gramas de alcatra,
corte em cubos, sem mantra.
Que a vida não vem com receita,
mas às vezes, a carne é perfeita.

Três cebolas grandes, chore sem pudor,
são lágrimas doces — não é amor.
Dois dentes de alho na dança entrarão,
e os cheiros antigos logo despertarão.

Duas colheres de páprica doce,
me disseram que ardor é fofo se trouxe.
Uma de páprica picante também,
pra lembrar que a doçura às vezes faz bem.

Cominho? Uma colher de chá.
Nem sei o porquê, mas deixe lá.
É o toque sutil do desconhecido,
aquele gosto que vem quando menos sentido.

Quatro batatas, em cubos, chegarão,
no fim do processo, elas se juntarão.
Quinhentos de caldo de carne quente,
banha os pedaços — tudo envolvente.

Duas folhas de louro, enfeitadas,
como cartas velhas não enviadas.
Três colheres de azeite, calor que não mente,
o amor cozinha mais lentamente.

Sal e pimenta, a gosto — cuidado!
Que o excesso pode ser pecado.
Salsinha picada, só no final,
pra fingir que o prato é saudável e tal.

Cozinha em silêncio, fogo discreto,
um verso mexido, um tempo correto.
Com pão ao lado e fome no olhar,
sirva com afeto, sem precisar explicar.

Mas se for brindar, que seja direito,
nada de espuma com gosto suspeito.
Cerveja de rótulo triste, sem fé?
Dispense. Recuse! Se for da AMBEV, não é.