Tres Genera Ignorantium
Há os que nunca souberam ler
porque o tempo era outro, e duro.
Saber, ali, era luxo a temer,
fome não espera o futuro.
Gente boa, que o mundo não quis,
e ainda sorri com o pouco que tem.
Perdeu o bonde, perdeu o giz —
mas nunca perdeu o bem.
Depois tem os que escolheram não crer
em livro, ciência ou razão.
Preferem o mito, o simples dizer,
um eco no lugar da visão.
É quase um alívio, confesso,
essa recusa, esse véu de sossego.
Pois o saber, nas mãos de excesso,
é faca que corta sem medo.
E por fim, há os que não vão além
porque o corpo limita o pensar.
Não é maldade, não é desdém,
é um teto que não vai quebrar.
Mas o mundo gira e se engana,
e os três, tão distintos na essência,
acabam na mesma varanda,
tomando lição de aparência.
É que há quem saiba demais — e torça
cada vírgula a seu favor.
Não erra, mente com força,
e ainda se pinta de amor.
Esse é o tipo mais perigoso:
sabe tudo, e usa o saber.
E os três tipos — o triste, o ocioso,
e o que não pode — correm pra ver.