terça-feira, 27 de maio de 2025

Vermes de gravata

Vermes de Gravata
(um poema para quem ainda crê na palavra)

No pódio da infâmia sobem sorrindo,
Hitler à frente, já prevenindo
o que viria com tanto esmero:
Mussolini, Milei, Bolsonaro — o zero.

Netanyahu reza bomba em escola,
Trump bate palma, a verdade se enrola.
Meloni costura com linha fascista,
Orbán fecha a porta e rasga a pista.

Bukele vigia com olhar de Big Brother,
Zemmour recita o ódio do outro.
Farage, Le Pen — versão detergente:
“limpeza étnica”, mas dita “gente”.

E surge Musk, num foguete dourado,
vendendo o céu, pisando o legado.
Faz da liberdade uma ação na bolsa
e empacota o mundo numa “graciosa” bolsa.

São muitos nomes, a mesma ração:
ignoram cultura, ciência, razão.
Desprezam respeito, pisam na escola,
vendem justiça, embrulham e embolam.

Humanismo? Pra eles é praga.
Verdade? Só a que o algoritmo propaga.
Igualdade? Só se for de mercado.
E quem pensa diferente é cancelado.

Mas eis que o povo, o tal “cidadão”,
que sonha com ordem, mas ama a prisão,
aplaude, vota, marcha, delira —
com quem o despreza e depois o retira.

Será burrice? Falta de estudo?
Ou pacto assinado com algum deus mudo?
Talvez um combo: ignorância e maldade,
com molho de medo e falsidade.

E nós? Poetas, loucos, ateus e artistas,
seguimos a gritar em pistas mistas.
Porque a palavra, mesmo cansada, resiste —
na contramão dos vermes que ainda existem.