terça-feira, 27 de maio de 2025

O bicho homem

O bicho homem 

Tudo começou com pedra e pontaria,
na pré-história da anatomia.
Era caça, era fome, era instinto,
ninguém falava em “pecado” ou “extinto”.

Aí veio o arco, a flecha, a mira,
mais proteína, menos mentira.
Matava-se bicho, e não opinião,
ninguém explodia por religião.

Mas bastou o bronze, bastou o ferro,
e o homem fez do irmão seu desterro.
Inventou a guerra, a espada, o escudo,
e esqueceu o gosto do fruto maduro.

A pólvora, então, soprou da China,
fez do monge um franco-atirador na esquina.
Mosquetes, canhões e cruzadas loucas —
por um “amém”, cabeças ocas.

No XIX, metralha e repetição,
a fábrica virou confissão.
No XX, com tanques e bombas nucleares,
fez da Terra um lote de bazares.

Hoje, com drone, com chip, com senha,
a bala pensa e a bomba desenha.
Islamista mata desenhista, sem remorso,
por Alá — ou pelo ócio. Que esforço!

Judeu mata islamista, com razão herdada,
com Tanakh, com drone, com bala guiada.
E o ciclo gira, gira e se repete,
com fé, com farsa, com internet.

Tudo por terra, mulher, bandeira,
por um pedaço de chão ou de besteira.
E os crentes, de Bíblia ou Alcorão,
bradam pelo porte como se fosse salvação.

Ô bicho burro! Com tudo que sabe,
ainda se esconde atrás de uma labe.
Tem chip na mão, inteligência na nuvem,
mas não aprendeu que matar não é virtude.

Acha que é raça, é povo eleito,
mas fede a sangue, rancor e despeito.
E assim, armado, crente e confuso,
vai escrevendo o fim… com cartucho incluso.