Levante-me!
Começa-se com
200 gramas de biscoito champanhe,
durinhos como mamilos arrepiados.
Reserve.
Em outra tigela,
duas vontades se separam:
gemas e claras —
como carne e alma,
como o desejo e o gesto, às vezes.
Bate-se as gemas com ½ xícara de açúcar
(como quem escreve uma carta longa e suada)
por três minutos, ou até virar creme claro,
daqueles que lembram o sol entre os lençóis.
250 gramas de mascarpone
vêm depois,
feito corpo que se oferece sem perguntas.
Misture,
até que o homogêneo nos confunda.
Agora, as claras.
Bata com uma pitada de sal,
com cuidado,
com desejo contido.
Elas subirão em picos —
firmes, mas delicados,
como arrepio bem guiado.
Incorpore-as ao creme
sem pressa,
com espátula e paciência.
Não quebre o ar.
Não quebre o encanto.
Num prato raso,
misture 1 xícara de café frio
com duas colheres de Amaretto (pra um pouco mais de pecado).
Molhe os biscoitos —
rápido, como beijo roubado.
Eles não devem se entregar de vez.
No fundo de um refratário
(20 por 20, ou o que couber na sua fome),
faça a primeira camada:
biscoito.
Depois, uma camada de creme.
Repita.
Repita.
Até não haver mais escolha
além do fim.
Cubra.
Leve à geladeira.
4 horas, pelo menos.
Ou deixe a noite passar
com seus ruídos de saliva e espera.
Na hora de servir,
um toque final:
cacau em pó polvilhado
pela peneira do desejo.
Sirva gelado.
Com olhos fechados.
E alguém disposto
a lamber os cantos do prato
com gosto.