segunda-feira, 12 de maio de 2025

Lux Nova

Lux Nova

Foi num concerto erudito e imponente
(Vila-Lobos, Bartók — noite exigente)
que vi aquela dama, bela como um tema raro,
com olhos que pareciam tocar um Fauré bem claro.

Trocamos olhares — uns quantos, bem medidos —
e sorrisos contidos, porém definidos.
No fim do programa, puxei um assunto ameno,
com aquele ar de quem sabe — mas sem ser obsceno.

Ditei meu número com voz tranquila,
sabendo que charme, às vezes, se destila.
Ela anotou com graça e educação,
mas meu instinto disse: “Calma, é só educação…”

Professora de piano, num tom encantador,
visivelmente culta, delicada e de valor.
Mas não me iludo com ares ou compostura —
tenho mestrado em música e alma de partitura.

Mesmo assim, achei improvável, quase utópico,
que me chamasse — parecia tópico
de crônica suave, dessas que se esquecem…
até que, meses depois, mensagens aparecem.

Agora, com o jantar marcado,
o impossível virou só enfeite exagerado.
E eu, que achava o conto encerrado,
me vejo entre um blaser e um verso engomado.

Se vai dar em sonata, prelúdio ou silêncio,
não sei — por ora, só penso no início.
O resto, deixo pra pauta futura:
há encontros que merecem sua própria partitura.