O Peso das Sombras
Seu berço foi um dia colo,
mãos que afagavam sonhos,
olhos que brilhavam esperança.
Mas a vida, impiedosa,
desfez sua infância em destroços.
Levaram sua mãe,
rasgaram sua história,
e você, ainda menino,
aprendeu que o mundo
tem mãos que apertam o pescoço,
não o abraço.
Doze anos é tempo demais
para um luto que nunca cessa.
Seu corpo cresceu,
sua dor também.
E a cada gole, a cada dose,
era menos mundo em seus olhos,
menos peso nos seus passos,
menos ar nos seus pulmões.
No fim, a sombra te venceu.
Não foi o xarope, nem o ópio,
mas a saudade insuportável,
o vazio irremediável
de quem um dia
só queria voltar para casa.
Agora dorme sem pesadelos.
Agora, talvez, a mãe te embale.
Paris, 07/10/2024