Glória a Deus
Oh, fiéis de espírito ralo, frágeis como taquara seca,
Que marcham em rebanho, guiados pela lorota bem-feita,
Com olhos vendados por versículos tortos, mal lidos,
E ouvidos tapados ao som do bom senso perdido.
Acreditam num deus de prateleira, made in homo sapiens,
Que promete Porsche e mansão, enquanto o dízimo engorda os seus cães.
Os pastores, oh, que primor de hipocrisia lustrosa,
Com ternos caros e jatinhos, pregam a cruz gloriosa.
“Deus quer teu sucesso!” – berram, com o cofre a tilintar,
Mas o milagre é só deles, que vivem a se locupletar.
Pedófilos de púlpito, traficantes de oração,
Alcoólatras de vinho santo, mestres da depravação.
E o rebanho aplaude, cego, com fervor de novela,
Enquanto o dízimo paga o iate e a amante modelo na janela.
Sofre o pobre? Culpa do capeta, esse vilão de folhetim!
Morre o justo? É Satanás, com seu script de mau fim!
Mas o deus que criaram, esse artesanato da mente,
É quem ri por último, afiando o fim da gente.
Pois se o homem o inventou, com tinta e papel amarelado,
Também o fará carrasco, num apocalipse bem ensaiado.
E há os que gritam “Israel!” com saliva e bandeirinha,
Como se o povo eleito tivesse Jesus na listinha.
Esquecem que o Cristo, palestino de pele tisnada,
Foi cruxificado por Roma, não por quem hoje é louvada.
Defendem a direita, com unhas e dentes cerrados,
Mas Jesus, o primeiro comuna, partiu pão pros esfaimados!
“Vendam seus bens!” – ele disse, num livro de estórias mil,
E os pastores riem, contando notas no camarim sutil.
Oh, ignorância bendita, que faz o rebanho balir,
Entre o “aleluia” rouco e o cheque a cair.
Deus é o shopping, o pastor é o rei,
E o fiel? Um otário, na fila do “amém” sem porquê.