quarta-feira, 19 de março de 2025

Glória a Deus

Glória a Deus 


Oh, fiéis de espírito ralo, frágeis como taquara seca,  
Que marcham em rebanho, guiados pela lorota bem-feita,  
Com olhos vendados por versículos tortos, mal lidos,  
E ouvidos tapados ao som do bom senso perdido.  
Acreditam num deus de prateleira, made in homo sapiens,  
Que promete Porsche e mansão, enquanto o dízimo engorda os seus cães.  

Os pastores, oh, que primor de hipocrisia lustrosa,  
Com ternos caros e jatinhos, pregam a cruz gloriosa.  
“Deus quer teu sucesso!” – berram, com o cofre a tilintar,  
Mas o milagre é só deles, que vivem a se locupletar.  
Pedófilos de púlpito, traficantes de oração,  
Alcoólatras de vinho santo, mestres da depravação.  
E o rebanho aplaude, cego, com fervor de novela,  
Enquanto o dízimo paga o iate e a amante modelo na janela.  

Sofre o pobre? Culpa do capeta, esse vilão de folhetim!  
Morre o justo? É Satanás, com seu script de mau fim!  
Mas o deus que criaram, esse artesanato da mente,  
É quem ri por último, afiando o fim da gente.  
Pois se o homem o inventou, com tinta e papel amarelado,  
Também o fará carrasco, num apocalipse bem ensaiado.  

E há os que gritam “Israel!” com saliva e bandeirinha,  
Como se o povo eleito tivesse Jesus na listinha.  
Esquecem que o Cristo, palestino de pele tisnada,  
Foi cruxificado por Roma, não por quem hoje é louvada.  
Defendem a direita, com unhas e dentes cerrados,  
Mas Jesus, o primeiro comuna, partiu pão pros esfaimados!  
“Vendam seus bens!” – ele disse, num livro de estórias mil,  
E os pastores riem, contando notas no camarim sutil.  

Oh, ignorância bendita, que faz o rebanho balir,  
Entre o “aleluia” rouco e o cheque a cair.  
Deus é o shopping, o pastor é o rei,  
E o fiel? Um otário, na fila do “amém” sem porquê.