sexta-feira, 1 de agosto de 2025

運命の笑顔 (Unmei no Egao)

運命の笑顔
(Unmei no Egao)

beldade Zarzis  

coração em ereção  

sozinha prenha

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Prece ao Senhor

Prece ao Senhor
(para declamar quando achar que está meio perdide)

Bom Senso que sois o único senhor,
que estás na essência,
sofisticado (ou não…) seja o vosso meme.
Venha a nós o vosso lema,
seja feita a vossa vontade,
assim no lar como no bar.

O riso nosso de cada dia nos dai hoje,
ajudai-nos a evitar as nossas ofensas,
assim como nós evitamos
quem nos tem ofendido.

E, por favor,
selecionai-nos as tentações —
porque “todas é” exagero,
e as melhores dão sentido ao caminho.

Guiai-nos, enfim,
sempre ao bem.

Hey man!

Nucleus Essentiae

Nucleus Essentiae

No centro da fruta, um caroço severo,
no centro do mundo, um pânico sincero.
Chamam de núcleo — palavra elegante
pra esconder a bomba no peito do amante.

Núcleo familiar? Um lar ou estopim.
Ninguém sabe ao certo onde acaba ou começa o fim.
Na célula, dança de DNA e mitose,
que às vezes vira câncer — uma apoteose.

Núcleo urbano: buzina e concreto.
No fundo, um sertão cercado de afeto.
Núcleo duro, núcleo gestor,
núcleo do medo, do ódio, do amor.

E o núcleo atômico, tão disciplinado,
segura a catástrofe com sorriso fechado.
Mas aí vem Chernobyl, vem Fukushima,
o núcleo vaza — e tudo contamina.

Veio Hiroshima, Nagasaki também,
só pra lembrar que o homem faz bem
em brincar de deus (fou-deus!) com seu dedinho torto,
plantando no chão o brilho do morto.

No núcleo da ideia há sempre uma falha,
um ruído, um eco, uma navalha.
E o essencial, dizem, é invisível ao olho,
mas fede a silício, a urânio, a orgulho.

No fim, talvez a essência nem tenha miolo,
apenas casca, verniz e consolo.
E o núcleo da essência, se é que há,
é só esse susto que insiste em ficar.

segunda-feira, 28 de julho de 2025

Soneto do Ápice

Soneto do Ápice 

Subi, não pelos pés, mas pelo assombro,
deixando o mar, a curva e sua espira.
O mundo ia sumindo, tom por tom,
e o peito, prestissimo, já se batia.

Eu ia empolgado — e era sincero —,
mas nada preparava o que se avista.
Nos jardins da Cimbrone, o instante é zero,
e tudo em volta torna-se conquista.

No mirante, parado, sem defesa,
chorei como quem nasce ou se despede.
Não sei se foi milagre ou sutileza,

mas tudo ali me fez cair a rede.
Nos jardins suspensos da leveza,
renasci? Talvez. Ou fui à minha sede.

domingo, 27 de julho de 2025

Coisinha

Coisinha

Inconsciente é bicho que não dorme,
mas age escondido, sem ter patrão.
No escuro do eu, dita o tom e a forma,
ri da razão como um bom charlatão.

Complexo de Édipo — drama e novela —
te amo, mamãe, mas ouço o sinal.
O desejo caminha em passarela
entre o afeto e o limite ritual.

Repressão: meu hábito mais discreto.
Não nego o que sinto — só dou espaço.
A vontade se esconde, não por veto,
mas pra dançar depois, no seu compasso.

Sublimação: pinto o nu que acende.
Desejo se escreve em verso e desenho.
O fogo transforma, e a arte entende
que o que era impulso, agora é empenho.

Transferência: dou amor a quem ouve.
Mas vejo no outro o que mora em mim.
Não é ilusão — é ponte que move
o que antes fluía sem ter um fim.

Ordens simbólica, imaginária e real —
três jeitos de ser e se perceber.
Na primeira, eu falo; na segunda, ideal;
na terceira, o mundo vem me escrever.

Estádio do Espelho: vi quem nascia.
A imagem brilhava: um eu possível.
Não era mentira, era poesia —
um rosto em processo, sutil, visível.

Nome-do-Pai é a Lei dita com eco:
“Desejar, sim, mas com forma e medida”.
Não freia, não corta — desenha um beco
pra que o desejo encontre sua saída.

Objeto a: coisinha sem sentido,
mas que, sem ter nome, me nomeia inteiro.
É falta criativa, brilho contido,
ponto de fuga do meu verdadeiro.

Falo — não só o órgão (fica claro!) —
mas o eixo, o traço, a rede, o sinal.
É símbolo vivo, jamais mero amparo,
tecendo sentidos no campo verbal.

Por isso sempre digo, entre tropeços,
na língua em que eu danço, sonho e embalo:
“às vezes falo com’eu penso…” — avessos,
às vezes penso co’meu falo.” — e me exalo.

Por isso…

sexta-feira, 25 de julho de 2025

De bom alvitre

De bom alvitre

No escaninho escuro da memória,
repousam fainas de um tempo esquisito,
alvíssaras de um mundo mais bonito,
que a vida — risonha — risca da história.

Um pão, diziam, era o molecote,
que em sonho ousado, quixotesco ardor,
flertava a moça — sua bela-flor —
riscando o chão batido do seu lote.

Estar nas tintas era o seu ofício,
pintava o tédio com requinte e brilho,
sem dar um cavaco ao próprio juízo,
— estar nas pampas já era seu trilho.

E o mundo, pasmo, ouvia seu alvitre:
“Desprezem tudo, até mesmo o sublime.
Quem sonha alto não passa de um alpiste,
num céu que engole os quixotes do crime.”

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Salmo 8 (tentação)

Salmo 8
(tentação)

deus bate ponto no relógio da ilusão.
tão sagrado quanto um truque de salão,
vende pecado à prestação,
com juros altos na salvação.

fé cega, vaca atolada,
num brejo de orações mal passadas,
onde alma é moeda de troca
e amor… é só fachada.

orar virou senha de acesso,
ritual por comando de voz.
mas já no berço da areia e da pedra
fitna dançava entre nós.

satanás trocava nomes nas fronteiras,
shaytan e yetzer hara jogavam dados,
na tenda, um velho vendia tawba
em papiro de pecados reciclados.

chegavam caravanas do arrependimento,
maghfira entre tâmaras e preces.
na esquina, um escriba vendia kapará,
em latim, hebraico, e muitas vezes.

jahannam ardia antes do fósforo,
chet se confundia com lei.
o templo lavava as mãos de tudo,
enquanto o povo… dizia amém.

aveirah tingia a túnica do rei,
o sacerdote colhia avon com luva.
um bode expiatório subia a colina,
sem saber o que era teshuvá.

o bem e o mal jogavam gamão,
na sombra do juízo final.
a punição sempre pronta,
o perdão… bem, opcional.

“quando um otário nasce, um esperto vem ao mundo” —
dizem. mas a conta nunca fechou.
porque desde os primeiros gritos de fogo,
tem muito mais otário,
e o esperto…
foi quem criou deus à sua imagem e semelhança.

Amém