quarta-feira, 4 de junho de 2025

Papai é ateu, mas…

Papai é ateu, mas…

Florzinha,  
Vem cá, vou te contar com amor,  
Sobre deus, fé e o que for.  
Tem quem jure que ele está no céu,  
Com barbas brancas, num trono de véu.  

Outros, como eu, não crêem assim,  
E acham que deus pode ter outro fim.  
Mas, chérie, o que importa, de verdade,  
É viver com bondade, com curiosidade.  

Dizem que deus fez o mundo girar,  
Com estrelas, montanhas, o mar a brilhar.  
Mas talvez, Flor, só talvez, preste atenção,  
deus seja um conto do nosso coração.  

Como quando você inventa um herói,  
Com capa, coragem, que voa e se formou.  
As pessoas sonharam: “Como ele seria?”  
E deram a deus o que a alma queria.  

Deram amor, justiça, um olhar protetor,  
Histórias pra guiar, pra afastar a dor.  
Mas, às vezes, Flor, com tanto fervor,  
Esquecem de ouvir quem pensa com amor.  

Tem quem grite que só deus é a lei,  
E julgue o outro com fogo que sei.  
Mas, minha pequena, com asas no olhar,  
O mundo é mais livre pra quem sabe amar.  

Não é um deus que faz o bem brotar,  
É o coração que escolhe se doar.  
E se papai não crê num céu a rezar,  
É na terra que ensino você a voar.  

Seja gentil, curiosa, nunca se curve,  
Pergunte, descubra, o mundo é que serve.  
Pois mesmo sem deus, com ou sem razão,  
Papai é seu guia, com luz no coração.  

Decepção na Colméia

Decepção na Colméia

A deputada espanhola,
de cruz e pistola,
corre atrás do repórter negro
como quem caça esmola.

Invade sistema, finge ser outra,
pede PIX com fé devota,
posta selfie com arma e hóstia,
fala em deus com voz de idiota.

Falsidade? Sim. Ideológica.
Invasão? Também. Informática.
A pena? Dez anos, bem contados.
Mas seus passos já são italianados.

Si parte per l’Italia!
como quem vai à missa.
A extrema direita tem fé,
mas na justiça…

desliza.

Contemplar

Contemplar

Contemplar a cor da ausência,
o azul que arde sem pudor no contrabaixo das constelações,
onde cada nota vibra no útero do tempo,
e o tiramisú se derrete na língua da memória.

Molhadinha, faróis acesos —
a noite se oferece em carne de vela,
com os olhos vidrados no golaço do Cabuloso,
onde a arquibancada uiva em esperanto lunar.

Jack Herer canta no pulmão do infinito,
as cinzas dançam com os seios da fumaça,
e o cheiro de Deusa no cio
abre fendas no real,
fazendo do delírio
uma flor.

Contemplar, então,
é descalçar a lógica,
e caminhar nu
sobre o dorso azul
da imaginação.

terça-feira, 3 de junho de 2025

Un an

Un An

Aujourd’hui, un an. Et tout se tait,
sans ta présence, ton amour parfait.
Le temps s’étire, mais peine à guérir
la plaie de t’avoir vu partir,
toi, mon premier, ma racine vive,
mon fils perdu au bout d’une dérive.

Entre le deuil et un souffle apaisé,
douze années d’un combat épuisé.
Maintenant tu dors, délivré du mal,
près de ta mère, dans l’amour total.

Ton rire demeure, lumière en secret,
dans la nuit des jours, quand le soleil se tait.

Um ano

Um Ano

Hoje faz um ano. E tudo é silêncio,
sem sua presença, seu afeto imenso.
O tempo caminha, mas mal cicatriz
a dor de perder meu primeiro, meu raiz.

Fico entre o luto e o alívio —
doze anos de luta, um longo declive.
Agora descansa, livre da dor,
com sua mãe atriz, no mesmo amor.

Seu riso persiste, secreto farol,
no escuro dos dias, no frio do sol.

domingo, 1 de junho de 2025

Ūnicae

Ūnicae

Foi o amor mais puro, mais sincero, mais intenso — desses que parecem ter sido escritos por um poeta febril, e não vividos por dois seres imperfeitos. Anos de devoção quase mística, um tesão desmedido, beirando a obsessão, como se amar fosse perder-se com gosto no outro. E eu me perdi. Pisei feio na bola. A separação veio como sentença. Não houve apelação, apenas o silêncio e a distância.

Anos depois, compreendi — com a sobriedade que só o tempo e a abstinência trazem — que foi uma das melhores coisas que me aconteceram. Parei de beber. Parei de me enganar. Fui um desastre com ela, sim. Mas também fui jardim em dia de primavera, porto seguro em noite de tempestade. Tenho plena consciência disso.

Até tentamos retomar uma amizade nos últimos tempos, mas sua chatice, que é uma característica recente, presente coincidentemente desde que ela começou a fazer análise, acabou por me despertar, por um lapso de tempo, minha maladresse que a incomodava tanto, e isso deu um banho de água fria no processo de retomada da amizade. Amizade que não acredito mais ser possível, afinal, além de ela me ter “riscado da sua vida”, segundo ela mesma, a pessoa deliciosa que foi uma grande amiga durante dez anos antes de nós apaixonarmos, parece não mais existir.

Ela, por sua vez, tornou-se aquilo que mais temia: intolerante, dura, azeda como vinagre velho. Seu jeitinho agressivo, aquele jeito bruto que só mostrava a quem mais confiava, virou espada afiada. Riscou meu nome do seu livro da vida com a fúria de quem queima cartas antigas. Ela guardou os desastres como troféus, enquanto eu carrego as alegrias como cicatrizes que brilham. Não creio que um dia ela se permita ver que também feriu, que também quebrou coisas que eu não consegui colar. Talvez nunca reconheça que fui, além de desastrado, também motivo de risos, de orgasmos, de ternura.

Mas, como não sou dono da razão, e aprendi que o mundo é um redemoinho imprevisível — quem sabe?…

Hoje sigo em paz, feliz com o que o destino me reservou. E, ao contrário da eterna musa, não a risquei, nem a riscarei da minha história. Ela mora num canto do coração onde as luzes são suaves, e a trilha sonora é a do sexo que faz esquecer quem se é. Porque seu segredo, a arma mais poderosa, é esse: o sexo divino. Aquilo que hipnotiza mesmo os homens mais lúcidos.

E se um dia — por obra do acaso ou das perversões do destino — eu puder reviver essa magia… não negaria. Mas que não passe disso. Sem promessas, sem armadilhas.

Porque sei, com uma certeza serena, que ela foi — e sempre será — a mulher da minha vida. E, ao mesmo tempo, aprendi que a vida é larga, generosa e cheia de surpresas. E que é totalmente possível ter outra mulher da minha vida. Ou mais de uma. Ou nenhuma. Porque amar, às vezes, é deixar ir. Outras vezes, é ficar quieto. E seguir.

Fritz en sécurité

Fritz en sécurité

Les grilles pour sécuriser les fenêtres sont arrivées.
Je vais trouver quelqu’un (peut-être un voisin) pour m’aider à les installer.
C’est très simple, mais avec mon handicap,
il n’y a que le sexe qui reste simple — seul ou accompagné.