segunda-feira, 23 de março de 2015

Inferno (maior) astral

38 anos. Logicamente, mais próximo do fim do que do começo.

Logicamente, com essa idade, o sujeito ordinário acumula imóveis – com ou sem móveis –, automóveis, filho(s), esposa – e/ou ex-esposa(s) –, dividas, alguns doenças... Uns tem quilos a mais, outros cabelos a menos... Tem também aqueles que acumulam tudo isso e ainda são grisalhos nos pêlos que restam!

Eu não consegui tudo isso. Na verdade, por enquanto, só a parte dos “filhos e esposa – e/ou ex-esposa –” e das dividas e doenças!
Este é meu patrimônio aos 38 anos de idade. É verdade que recentemente resolvi descolar uns diplomas, o que é, em tese, um bom caminho para obter o resto da “lista” 
supra citada!

Não posso deixar de mencionar o terço de um imóvel que herdei da minha recém-falecida mãe, – como passa rápido o tempo quando beiramos a quarenteira! – que pertence, obvia e automaticamente, aos meus três filhos.

Além desse meu patrimônio invejável – sem ironia, minha família é a realização do mais genuíno dos meus sonhos –, tenho a impressão de ter herdado dos meus pais algumas das patologias que, imagino, eles herdaram dos meus avós, ou desenvolveram ao longo de suas respectivas vidas.

Atualmente tem me chamado a atenção os personagens que formam a personalidade, que, no caso, encaixo nas “patologias”.

Vou tentar apresentá-los - os principais personagens - de forma sucinta, do “caçula” ao “primogênito”...

O caçula, que responde pelo nome de Féssaut, chega aos poucos, três vezes por semana, entre o despertar e a sirene que sinaliza o começo da primeira aula. Ele parte, também aos poucos, entre a sirene que sinaliza o final da ultima aula e o primeiro dois ao chegar em casa. Ao fim de cada trimestre ele vem com mais freqüência. Criativo, meio desorganizado, mas empolgado, ele ainda tem esperanças de conseguir acrescentar algo aos seus trezentos alunos. É um sonhador, que se entrega, não foge à luta – quase nunca – e ao mesmo tempo anseia durante toda sua “estadia” pelo momento da partida. Com tanta dedicação e tão pouco retorno, ele corre sérios riscos de adquirir problemas de saúde física e psíquica ao longo dos anos letivos, que podem vir a ser “anos letais”. Vou incentivá-lo a especializar-se um pouco mais para aproveitar sua criatividade e dedicação com alunos mais maduros, e onde ele provavelmente possa obter retorno mais satisfatório. Quem sabe até uma aposentadoria?!?

O outro, pouco mais velho do que o Féssaut, assina como Geraldo Cavallini. Figura, peça rara, assim como o caçula ele não foi criado de um dia para o outro.

Foi forjado aos poucos, e resolveu se assumir enquanto um legitimo personagem há uns três anos. Corajoso, curioso e inspirado, ele é mudo, mas não é surdo. Ele escuta, pensa e escreve. Não necessariamente nessa ordem! Aliás, acontece de ele escrever sem pensar... Mas não há de ser nada grave, pois as palavras, se não forem escutadas ou lidas, ainda que escritas, podem ser apagadas e é como se elas nunca tivessem existido. Ele vem regularmente, o Geraldo, mas raramente tenho condições de recebê-lo. Como ele não fala, acaba ficando com palavras engasgadas nas pontas dos dedos, ou da pluma. Não tenho como prever seu futuro, mas, como tem pouca oportunidade de “ser”, receio que ele suma aos poucos, até sumir de vez. Por outro lado, ele parece sábio e compreensivo. Pode ser que ele persista e talvez no futuro ele ganhe mais espaço no elenco. Para tal, além da sua persistência, ele precisa contar com o sucesso e a aposentadoria do caçula!

Vamos ao mais extravagante e, talvez por essa razão, o mais célebre de todos. Ele surgiu mais rápido do que os outros, já fazem... uns 28 anos! Veio, a principio, compensar as lacunas (?) do mais velho, mas é freqüentemente meio desajeitado e exagerado. Responde por Cosca, Coscarelli, ou “derivados”, como Cosquinha, Cosquito, e tcétera. Divertido, animado, sedutor e audaz, tem o poder de fazer gargalhar e de declanchar o pranto dos seus interlocutores. Assim como os outros, ele, o Cosca, gosta de tomar umas, mas às vezes, como é meio exagerado, acaba passando dos limites... Alias, de todos os quatro principais, é o que dá mais trabalho. Mesmo quando não exagera na birita, pode exagerar na comida, ou na velocidade... e costuma cumprimentar cavalos pela manha. Personagem complexo, quando abusa dos paraísos artificiais, dizem que encarna outros personagens, que podem ser ainda mais divertidos ou desagradáveis do que ele! Depende da vibe... Não posso negar sua importância, principalmente em outras épocas, mas ele vem perdendo espaço no elenco. Espero que ele não desapareça, mas que tenha um papel mais discreto.

Finalmente, o primogênito. Filho, pai, amigo e companheiro, ele é sensível, carinhoso, melancólico, ansioso, angustiado, tímido e reservado. É um tanto quanto perdidão, pensa muitas músicas, mas escreve muito poucas. Desde o surgimento do Cosca, é verdade que ele ficou muito apagado. Poucos o conhecem, e poucos dos que o conheceram podem relatar algo sobre ele, pois boa parte destes se transformaram em lembranças. Lembranças inesquecíveis, lembranças memoráveis. Esse personagem chama-se Gustavo, que aceitou o carinhoso apelido de Gut. 

Acho que no final, só deve sobrar ele, carregado das experiências, memórias e cicatrizes dos outros, além das suas próprias, de filho, pai, amigo e companheiro. 

De preferência, menos ansioso, agustiado e melancólico!

Isso, se tudo der certo. 

Ah, os quatro são Cruzeirenses fanáticos, influenciados pelo Cosca, claro!

Namastê